domingo, 29 de abril de 2012

Texto de folha de sala

Fica aqui o texto que a Catarina Domingues escreveu para a folha de sala da minha exposição "O que fazer com isto".



«Espera-se de mim que diga algumas palavras que ouvi no fundo do mar, onde tanta coisa é silenciada e tanta coisa acontece. Abri uma brecha nas obstruções e objecções da realidade e encontrei-me diante do espelho do mar. Tive de esperar um pouco até que ele se estilhaçasse e eu pudesse entrar no grande cristal do mundo interior.»

Paul Celan
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Ao longe a paisagem desmoralizada. A ruína dos valores estranhamente assumida na ruína de um colectivo. Lugares transformados em não lugares, a imobilidade, a passividade, os edifícios que repousam solitariamente. O gesto esquecido do homem. Os lugares adormecidos no tempo, a consciência dessa dormência colectiva, o nada à espera de acontecer.


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Penso o momento labiríntico da experiência humana em que aquele que procura se deixa encurralar, gera a partir de si os obstáculos ao seu percurso, esse embate consigo mesmo em que as silvas aparecem do exterior amarradas a um interior complexo, um emaranhado de silvas caindo levemente no corpo à espera de o ferir. O homem vai mais longe, ao lugar inalcançável, ao outro lado da luz, aquela obscuridade em que tudo o que é vida se revela por linguagem oculta. Ele vai atravessar o caminho, esperando não se desvincular inteiramente, ele vai a caminho.


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Couves encantadas no seu reinado absoluto de serem, enraizadas à vida. Nesse esplendoroso absoluto de apenas ser, viver e morrer, totalmente integradas na terra, erguidas para o tempo, acontecendo. Para além da imagem da couve, a sua força, a mesma que inspira cada ser, a respiração de existir em cada folha, em cada nervura, nas veias de viver.


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Aquele que procura, vai em que direcção? Nesse caminho, encontra um pequeno despontar, um sinal de vida, é discreta e tímida a sua presença, mas tão significativa, uma erva que nasce do acaso. Que alívio que o acaso, o absurdo, gere vida, uma respiração tranquila, poder encontrar numa estrada agreste a experiência da vida, ela insiste em ser, em despontar! Essa força desmedida da vida que insiste em ser! É um grito de existir! De súbito o esplendor de tudo quanto nos cerca, inaugurando os dias.


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Somos matéria informe numa busca desconcertante de assumir forma, continuamente transformados pelo exterior. A matéria é incerta, incerta no tempo, no espaço, no abismo da diluição. A terra é esse lugar de onde as couves se erguem e onde os pés do homem se afundam, tudo construído sobre o precário e instável, todo o ser tem pés de barro.


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O homem edificou cidades, definiu propriedades e defendeu-as e dominou-as. No entanto é na simplicidade da folha da couve que reside o espanto, na agressividade das silvas, no chão pantanoso, nas pequenas ervinhas que corajosamente existem nos solos. Aconteceu que existíssemos, tal qual ervas daninhas, espontaneamente sobrevivendo, falta agora o sentido, que para além de transportarmos o dom da vida, carregamos o pensamento, o uso da razão.


Catarina Domingues, Abril de 2012

O que fazer com isto












13 de Abril inaugurei uma exposição na Galeria 3+1 Arte Contemporânea em Lisboa, ficam aqui umas fotos. Quatro grandes telas, duas mais pequenas e uma pequena publicação que se pode levar e ler mais tarde que repousa numa prateleira. A exposição ainda fica patente até dia 19 de Maio. Os trabalhos foram feitos e pensados durante o tempo de residência em curso na ZDB.

Paisagem com dois fetos



Ao fundo as fábricas, as luzes, as cidades, aqui perto os fetos que se erguem como árvores. Aqui junto a nós.

Há um caminho por entre as couves



O que fazer com estas imagens



Um homem queimou um cigarro na testa



Sem-título







Uma pintura com uma pessoa que caminha entre silvas e terra gulosa!

segunda-feira, 16 de abril de 2012

"Cleópatra" nº6



Lancei um fanzine em jeito de encerramento da exposição no a9)))) e de abertura da exposição na Galeria 3+1 em Lisboa.

A apresentação do fanzine foi na sede do a9)))) dia 7 de Abril. O fanzine acompanhou a preparação das exposições e serviu de registo e ensaio de algumas pinturas e ideias.

Usei cartazes da ZDB e do a9)))) como capa com umas coisas em stencil e carimbos por cima. Ficou bonito, acho eu.

"Prédios, árvores e uma luz bonita"








Inaugurei uma exposição na sede do a9)))) em Leiria o mês passado. Ficam aqui umas fotos.


Uma mescla de trabalho pictórico e gráfico a ver se resulta, trabalhos mais antigos e outros fresquinhos, numa tentativa de criar relações e diálogos entre técnicas e ideias mais ou menos dispersas. Uma parede cinzenta, pregos, folhas de papel, telas, amigos e vinho tinto saboroso. Fiquei feliz!